terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Chiquinho

Sucedeu que, ao passar pela pequena cidade, Chiquinho, quando voltava de uma longa caçada, encontrou-se em precisão de mulher-dama e alívio para a alma cansada. A cidade era apenas passagem, para que chegasse a casa, depois dos dois meses de ausência. Lá o esperariam ansiosos os amigos, as mulheres e os filhos, todos prontos para a série de histórias que sempre Chiquinho contava, em meio ao cheiro dos assados que ora aqui ora ali oferecia para celebrar sua volta e grandeza.
A caçada, embora longa, não lhe dera grande satisfação, fora uma adição enfadonha de fatos corriqueiros. Nenhum veado, apenas pequenos animais, como as perdizes e os coelhos foram abatidos. Trazia cestas cheias, mas vazia era sensação de vitória; poucas eram as histórias, temia decepcionar a assistência cativa, que lhe justificava a ausência. Com este estado de espírito, buscava descaminhos, atalhos e cidades em busca de inspiração e novidades. Daí que parou em Tugúrio, a cidadezinha perdida.
Dirigiu-se à praça em que todas as ruas davam, para indagar da zona. Indicaram-lhe o caminho. Um pouco afastada, a casa que procurava ostentava em uma de suas janelas uma mulher, que mexia com os cabelos, tinha o semblante triste, mas cantava para si uma cantiga ligeira.
__ Tardes...
__ inh?
__ Anh, zona?
Ajeitando os cabelos, a dona confirmou. Chiquinho, que não via mais ninguém senão ela, estica o pescoço, procura olhar o interior da casa. Ao ver algumas portas entreabertas, um ambiente morno e convidativo, baixa o tom de voz, que se torna melosa, e pergunta se sabia quais eram as mulheres que davam ali? A moça faz um rodeio enorme no cabelo, olha Chiquinho e diz:
__ Mulheres que damos aqui somos eu, aquela lá, na penteadeira, mas que tá com os ovário podre e aquela outra – e mostrou uma mocinha que suspirava, sentada numa espécie de sofá – que se amigou com o doutor prefeito. E conclui com um meneio gracioso das mãos convidativas:
__ De modos que... mulheres que damos aqui somos eu...

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