sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Na esquina da rua ao lado daquela em que moro

Na esquina da rua ao lado daquela em que moro, há um sujeito que expõe, sobre um tabuleiro, objetos velhos e mais do que usados. Estão ali à venda.
Nas primeiras vezes em que o vi, perguntei-me se ele conseguia vender e sobreviver daquilo que vendia. Certamente.
Vende e sobrevive, pois vejo-o lá há mais de dez anos.
Exibiu, durante dois ou três dias, um rádio em caixa de madeira, ou uma caixa de madeira antiga de rádio. Achei o preço exorbitante. Vendeu.
Vendeu enquanto eu pensava uma segunda vez.

Quando troquei por disjuntores os velhos fusíveis que alimentavam a luz desta casa, ofereci-lhe todo "sistema". Ninguém mais usa isso, disse-me ele; mas, por insistência minha, acabou ficando com tal sucata. Vendeu ou jogou fora?

Há pouco, tive de substituir a cafeteira elétrica. Custei muito a trocá-la, mais pelo modelo e pelo afeto que lhe tinha, do que por avareza. O tanque d'água vazava e não há mais peça de reposição na praça. Encontrei uma, modelo parecido

Aprendi: quando se compra uma coisa de que se gosta, devemos comprar a mesma coisa no dia seguinte. No terceiro dia, já não está mais no mercado. Como a boca já está torta, leva-se muito tempo a encontrar outro cachimbo que se lhe ajuste.

Levei a parte elétrica da cafeteira para a loja em que costumava consertá-la. E depois... não se joga fora aquilo por que se tem afeto.
Pode ser útil, disse ao rapaz da loja. Fiquei com o jarro e o suporte do coador. Foi o que usei, enquanto relutava para usar a nova cafeteira.
Só depois me lembrei do homem-brechó. Poderia lhe ter dado, ainda que com defeito, a cafeteira completa; mas já era tarde.

Hoje fui até ao tal belchior com uma cúpula de abajour sem lâmpada, com um chuveiro elétrico que não aquece, com um cesto de lixo usado( desses que a Casa e Vídeo vende) e quatro fitas-cassete-audio, virgens, ainda embaladas.

Já tinha oferecido as fitas, não quiseram. Tornei a oferecê-las pelo caminho a uma vizinha, também não quis. Ninguém usa mais estas quinquilharias - tornei a me dizer. Quem sabe, eu ainda posso usar no automóvel?-pensei.

Desta vez, o alfarrabista disse aceitar tudo e ainda me perguntou o qu’eu tinha na outra mão. .
Ou por avareza,
ou por mesquinhez,
ou por não querer lhe estragar o negócio.
não lhe dei o que tinha na outra mão.

Abraqos!

Elesbão

2 comentários:

  1. Elesbão,
    bem vindo ao blog. Dele faça uso quando quiser. Gostei do texto. A escolha de palavras é primorosa.

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