sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Diário de Manuel

I

Os olhos de Esmeralda fixavam-se em mim. Os arquejos faziam subir e descer os ombros. A respiração tensa e, não obstante o contato físico, sentia virem-me os acessos, a tosse, que deveria conter – os suores noturnos. A morte era minha velha conhecida. Esmeralda, não. Buscava apenas os horizontes, a glória do prazer – perder-se nas paisagens do sexo.

A presença da morte é aguda. Convive comigo desde sempre. Sou tísico e Esmeralda não sabe; pensa que fodeu com um homem são. Entregou-se e procurou seduzir-me com o braço, a boca e a respiração.

Sinto-me livre – a alma insatisfeita possuiu um corpo – dou-lhe dois tostões e a despeço. Esmeralda sai e antes me olha pela última vez. Chego à janela para vê-la descer o beco, faz escuro. Preciso dormir.
(Oswaldo Martins)

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