quarta-feira, 9 de janeiro de 2008




O sol é grande, caem co'a calma as aves,

do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-m'ia
do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,

incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavan d'amores.
Tudo é seco e muda; e, de mestura,
também mudando-m'eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura


Sá de Miranda
Foto: de Ansel Adams - "Jeffrey Pine"

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