terça-feira, 8 de abril de 2008

MULHER, PATRÃO E CACHAÇA

Num barracão da favela do Vergueiro,
Onde se guarda instrumento,
Ali, nós morava em três
Eu, Violão da Silveira, seu criado
Ela, Cuíca de Souza
E o Cavaquinho de Oliveira Penteado.

Quando o Cavaco centrava
E a Cuíca soluçava,
Eu entrava de baixaria.
E a chimangada sambava
Bebia, sacolejava
Dia e noite noite e dia

No barracão,
Quando a gente batucava,
Essa Cuíca malvada
Chorava como ela só,
Pois ela gostava demais do meu ritmo
E bem baixinho gemia
Gemia assim como quem tem
Algum dodói

Tudo aquilo era pra mim
Gemia e me olhava assim
Como quem diz:
“Alô, my boy”.

E eu como bom violão
Carregava no bordão
Caprichava em sol maior

Mas um dia um padrão de horror
Ouvi um rádio que anunciou,
Com fundo musical
“Dona Cuíca de Souza
Com Cavaco de Oliveira Penteado
Se casou”

Me deu uma coisa na caquete
Eu pegar o cavaco
O pandeiro me falou:

“Não seja bobo
Não se escacha
Mulher, patrão e cachaça
Em qualquer canto se acha”.

(Adoniran Barbosa)

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