terça-feira, 27 de janeiro de 2009

da fidelidade canina

de tudo, ao meu amor serei atento
os passos, seus olhares, esquecimentos

com tal zelo, e sempre, e tanto
esquadrinho de seu corpo canto a canto

mesmo em face do maior encanto
eu lhe decifre cada entretanto

dele se encante mais meu pensamento
pra impor-lhe as regras do adestramento

quero vivê-lo em cada vão momento
e desventrar cada desvão de dentro

em seu louvor hei de espalhar meu canto
pra que emudeça de vez no espanto

e rir meu riso e derramar meu pranto
até quebrar-lhe com o meu quebranto

ao seu pesar ou seu contentamento
hei de infligir um bem maior tormento


e assim quando mais tarde me procure
que seja de joelhos e abjure

quem sabe a morte, angústia de quem vive
saberá me entregar o que já retive

quem sabe a solidão, fim de quem ama
sabe a dor da companhia a ferro e chama

e eu possa me dizer do amor (que tive):
já conheceu o medo de ser livre

que não seja imortal, posto que é chama
e apague mais que a morte de quem ama

que seja infinito enquanto dure
e minta até mesmo quando jure

Cesar Cardoso

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