sábado, 14 de fevereiro de 2009

No caminho de Swann (parte I)

Eu estava, pelo contrário, encantado, e mamãe foi buscar um pacote de livros que, através do papel que os envolvia, só me deixaram adivinhar seu formato oblongo, mas que sob esse primeiro aspecto, embora sumário e velado, já eclipsavam a caixa de tintas do Primeiro do Ano e os bichos-da-seda do ano passado. Eram La maré au diable, François le Champi, La petite Fadette, Lês maîtres sonneurs. Minha avó, como depois vim a saber, escolhera primeiro as poesias de Musset, um volume de Rousseau e Indiana: pois, se julgava as leituras fúteis tão prejudiciais como os bombons e os bolos, não pensava que os grandes sopros do gênio tivessem sobre o espírito, ainda que fosse o de uma criança, uma influência mais perigosa e menos vivificante do que, em seu corpo, o ar livre e o vento do largo. Mas como meu pai quase a tivesse tratado de louca ao saber dos livros que me queria dar, ela própria voltara à livraria de Jouy-le-Vicomte para que eu não corresse o risco de ficar sem presente (fazia um dia escaldante e regressara tão mal que o médico advertiu minha mãe de que não a deixasse fatigar-se daquela maneira) e se atirara aos quatro romances campestres de George Sand. “Minha filha”, dizia ela a mamãe, “eu nunca seria capaz de dar a esse menino qualquer coisa de mal escrito.”

(Marcel Proust)

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