sábado, 30 de maio de 2009

Paul Bley

Paul Bley

É primavera em Lisboa, muita flor, 22º com sol, 12º à noite, boa música. Ontem fomos ver Paul Bley, em concerto de piano solo.. Ele tocou aí no Rio há uns três anos, num desses festivais da Marina da Glória. Foi um belo concerto.

Entramos na sala uns cinco minutos antes da hora do início, muitos lugares ainda vagos e ele já estava lá, sentado ao piano. Envelhecido e mais gordo, aos 76 anos. Pianista canadense de formação clássica, ainda muito jovem substituiu Oscar Peterson em Montreal, quando este pôs o pé na estrada.

Aos 19 anos Bley também seguia para New York e em 1953 estreava em disco com um trio - ele, Mingus e Art Blakey! Desde então tocou com todo mundo e são esses mais de 50 anos no primeiro time do jazz que o credenciam.

Na hora, sala já cheia, a voz da gravação pediu que desligássemos os telemóveis (celulares), fez-se silêncio e ele, placidamente, começou a desenvolver "All the things you are". O concerto teve seis "partes". Em cada uma, Bley mesclava clássicos do jazz e "standards" (Black and blue, I can't get started) com momentos de improvisação livre, tudo costurado por uma recorrente evocação dos blues, como se dissesse: o jazz é tudo isto, podemos até dar liberdade aos nossos devaneios, mas esta é a fonte!

Após a quinta parte, Bley pela primeira vez levantou-se, com dificuldade, para agradecer os aplausos, e tocou mais uma. No meio disso ele passou por Good Bye, um tema que Benny Goodman toca no filme biográfico quando sua mulher morreu, e na sequência me pareceu que citou Adeus, de Edu Lobo. Ao terminar, levantou-se, sorrriu com os aplausos entusiasmados e então entrou uma mulher que lhe deu o braço e ele deixou o palco lentamente, acenando para nós.

Foi uma noite emocionente. É uma pena, mas acho que talvez não vejamos mais Paul Bley ao vivo.

Sergio Murillo

2 comentários:

  1. Caro Sérgio,
    belo texto.

    Abraço,
    oswaldo

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  2. Coementou o Elesbão:

    Ouço em vinil Diane: Chet Baker no trumpete enquanto Paul Bley passeia pelas teclas do piano.
    È bonita a frase final no texto do Sérgio.

    Elesbão

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