terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pilulinha 12

IDA

As Baladas de François Villon são exemplares. O mergulho no submundo das prostitutas e dos marginais é uma estratégia divertida para o ensinamento das moralidades. Reflexivas se aplicam a toda sorte de desvios das normas de conduta não para com elas se deleitar, mas produzir o pavor do erro. Poeta de sua época, o grande francês anuncia tanto a emergência do sujeito quanto o controle que este sujeito sofre, proibido de usufruir os prazeres com o deleite devido e o gozo louvado. O louvor do gozo se disfarça de moralidade e a aceitação de sua leitura se torna corrente e correta.

VOLTA

A leitura contemporânea das Baladas de Villon incorre no erro. No duplo sentido que a frase anuncia. O erro de deslocá-lo de sua época, das moralidades a que era obrigado seguir, e o sublime erro de se desaprender com ele, lê-lo ao contrário do que escreveu. Em suma ler o grande francês como um anunciador de nossa época, em que a marginalidade e a prostituição se tornaram moeda corrente do prazer estático pelo desvio que representam.
(oswaldo martins)

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