quarta-feira, 13 de julho de 2011

Variação para poema de Luiz Fernando

para Lucca
1
A crença na vitalidade nos faz melhores. Quando essa crença se desdobra em atos, os dias se limpam e as vontades explodem como se a juventude fosse eterna – até porque o dia seguinte é sempre vivido na singularidade do instante. O envelhecimento é mero acaso – descartável. Celebrar um filho com esta ótica é mais do que celebrá-lo é erotizá-lo tão mais nosso como as pedras angulares do poema de Luiz Fernando que erotizam, virilizam o aleitamento e o cuidado dos primeiros dias, solfejam músicas o encantamento.
2
Totalmente árabe o pai resiste – colono de gaza – sobre os desertos que se inventam para por termo à celebração. Contra o fim o pai celebra a sumarenta aurora – o riso de quem se ri por último e primeiro, que a afirmação da vida não permite a putrefação do humor. Como em Oswald, o poema de Luiz Fernando navega no auto amor/humor que corrói as bases sólidas do senso comum dos dildos masturbatórios da burguesia carente de eros.
3
O filho anuncia o pai que sempre foi – movimento circular de um outro sísifo. O que ousa pedras para diante em montanhas diferentes. Uma pedra que não volta mas se reconstrói o que o pai do filho anuncia no filho que o reanuncia.
4
Como fratura exposta o filho, no poema de Luiz Fernando, responde aos anátemas da vida. O filho é mais que o filho. O filho é o pai numa dimensão apsicanalítica da vida. O filho é o pai do que o pai gera, filhos e escritos. Quem não sabe das sacanagens da vida? O olho torto dos que giram à e a roda do próprio umbigo? Dos que escrevem o que não escrevem e impulsam para dentro como românticos bobocas? Fazer um filho é refazer-se contra a morte em vida, a represada angústia. Luxúria da razão. Paradoxal e verdadeira.
5
O corpo celebrado, enfim, como um clarão benjaminiano – anunciador da efusão e não do otimismo; anunciador da precariedade humana e dos zumbidos que compõem sobre a angústia dos tempos idos – tão Cartola – a celebração do devir.
(Oswaldo Martins)

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