sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um Poema de Lúcia Leão


culinária cósmica

a máquina de moer tempo
moeu todos
os meus retalhos

confesso ter imaginado
ser preciso, demorado
mas o tempo foi muito rápido

pois já tudo havia sido cortado
sem molduras ou traçados, minhas vidas
emboladas em pó se empilhavam

de onde veio a máquina eu não sei
disseram depois que era herança
mas eu acho que foi um hacker

há muitos deles por aí
surfando por todos os lados

confesso ter considerado
a possibilidade de fraude
no selo de validade 

confesso ter implorado
para que tudo tivesse sido mentira,
um truque, inventado

mas a máquina de moer tempo
tinha mais de uma velocidade
e por mais que eu tentasse

ela moeu também
até de mim a saudade.

(Lúcia Leão)

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