domingo, 17 de junho de 2012

O paradoxo de Elvira Vigna


Em O que deu para fazer em história de amor, Elvira Vigna constrói uma narrativa de idas e vindas, que sempre está a recomeçar e a inventar diversos fins. Entre um fim e outro, a consciência de sua escrita ressalta uma fina tessitura nos destinos dos personagens e ai de nós! estampa, com crueza, as misérias dos relacionamentos humanos e suas dúvidas. O título é remissivo a toda reflexão que a narradora propõe. Reflexão que se estende por toda a ação da escrita e da vida.

Ao mesmo tempo metalinguístico e não, o romance acontece na sensibilidade e inteligência do leitor a partir das substituições propostas pela narrativa. Na unicidade conquistada pela narradora, todos os personagens são si mesmos e os outros, amalgamados em uma mesma sensibilidade do tempo e do convívio social.

A operação admirável que Elvira consegue imprimir neste seu novo romance é tanto mais digna de entusiasmo quanto maior a capacidade de fragmentar a voz da narradora e ao mesmo tempo dar a ela a capacidade de refletir que esta fragmentação está intimamente ligada à expressão verossímil da vida.

Parece-me que a intenção permanente na pegada do romance está nesta capacidade de se afirmar ao mesmo tempo como narrativa e dela afastada paradoxalmente, pois o que se dá a ler como romance, ficção, é a capacidade mesma de se dar a ler como vida. Daí as idas e vindas da narradora, daí o pensar ingente que toma a vida da narradora que se põe a escrever desde sempre. Daí a reflexão a flor da pele que encontramos no romance.

(oswaldo martins)

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