segunda-feira, 16 de julho de 2012

gonzaguiana


para horácio e rose

1

um país só se inventa no chiste
na alegria das moças
que requebram ao som de gonzaga

das entranhas retira o fogo sagrado
heidegger o indica em höderlin
ou na coisa desvista

que o poeta prevê


2

um mito do juazeiro ou exu
o fundamento do forró dos forros
abre sua asa branca

sobre o sertão


3

se canta o galo triste

a noite de são joão
multicolorida

uma beleza
de balões no ar

inventa o cangote cheiroso
do lirismo feito de cama

e precipício


4

a boate cosacou
toca xote
o russo dança maxixe

esquecido dos generais
que dançam as marchas

da decapitação


5

a mulher-macho de lua
não se parece nem um pouco com a betty

nem com o louvor
das viragos dos tempos modernos

a mulher-macho de lua
anuncia os novos tempos

de afirmação e festa


6

o nome luí

se em um cabe como lua
se cabe como luva

em outro cabe como lula

no que luí
representa para sua gente


7

a história
não se constrói como fato

se constrói com o que de memória
um povo guarda

se constrói na sanfona de luiz gonzaga
no ita de caymmi
na voz alerta de seus poetas

populares


8

facilita

com essa saia
com essa blusa,

bastiana,

facilita,
para dançar o xenhenhém.


9

você tem que me voltar
dezessete e setecentos

os doutores multiplicandos
incipiandos

doutoram-se em doutorandas
tabuadas

incipientes do saber
governam o mundo

doutores honoris causas
de coisa alguma


10

lorota boa

entre catervas de asnos se meteu,
entre corjas de bestas se aclamou,
naquela salamanca se doutorou,
e nesta salacega floresceu.


só uns risquinhos, seu delegado
pois sou homem dereito

filho de boa família

(oswaldo martins)

Um comentário:

  1. Como é bom lembrar a figura, a música e o tempo do Gonzagão. Belo poema, bela homenagem.
    Abraços, Ianne.

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