sábado, 1 de dezembro de 2012

antiode para certos barbosas


para o andré capilé, que me deu o mote para o barbosa goleiro herói
                                      

há barbosas e barbosas

uns moram num bairro longe
roubam bolinhos nas marmitas
porque sentem fome
e se transformam em intérpretes
bem humorados dos cafofos das malocas dos trens das onze
e se chamam rubinatos

uns abelardos
jogam bacalhaus e circo
inventam o trono popular dos destronados
os cantores mascarados e os abacaxis
e ai fruita boa
no rebolado das chacretes

uns logo ali
no dessacralizado maracanã calam multidões
mas reinventam o caneco de ouro
e o expresso da vitória dos crioulos vascaínos
chamam-se moacir estes barbosas
que reclusos evocam por si mesmos o estigma
das injustiças

que o populacho midiático grita
que o penacho dos capachos vibra no ar
e os minervais, e os indiciais, e as vestais, e as togais
pessoas
como se a pátria fosse deles
como se a pária dos rapaces rapinantes
nada com eles houvesse na compra de votos reeleitivos
no chicote que estala nas costas dos mortos-vivos
que trabalham e suam

como antes suavam os escravos

mas há outros barbosas, mais venais
como um que se chamou ruína
e queimou os apêndices da escravidão para mantê-la
nos homens livres
e pousou de águia quando era um pombo correio
das assombrações governamentais que medravam
nas lavouras de café, nas lavouras com que o lavoura
incitava a implementação do capitalismo de coronéis

e tome suruba, palavras difíceis e dosimetrias
como data vênia e jogo para os jornais minervais
e revista vejas e

tome suruba, posturas imperiais e aiaiais
das iaiás e dos ioiôs
e tome

suruba

esses ruis vão a haia
vão à praia
vão à baia
vão à laia

dos ruis redivivos

e fecham a cara
e abrem as arcas
as sacas do neo latifúndio nacional

são doutores que doutoram
são auditores que auditoram
são ores que oram

por um deus mais nefasto
que os deuses dos basbaques
por um deus mais infausto
que os deuses de fausto
ou como lembra marx sobre o ópio do povo
esses que oram pelos deuses de ouro
rezam contra
a memória dos escravos
rezam contra
como rezaram contra getúlio
como rezaram contra o luí de gonzaga
e contra a memória dos governos populares

(Oswaldo Martins)

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