sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pilulinha 25


O céu dos suicidas, de Ricardo Lísias, editado pela Alfaguara, é livro que se lê de um fôlego só. A afirmativa, assim peremptória, pode fazer com que se pense ser o romance algo espetacular. Não é. É um bom romance, não resta dúvida, mas há nele algo de já visto. Lembra-me, pela temática, o conto de Tchekhov, Enfermaria nº 6 e o belo Uma história das borboletas de Caio Fernando Abreu. Embora as histórias sejam diferentes, a construção do texto de Lísias parece-se demasiado com alguns cacoetes formais que estão presentes tanto no autor russo quanto no gaúcho.

A linguagem criada por um autor que pressupõe a presença de vários autores é comum e mesmo natural em escritores que se iniciam na arte da narrativa, entretanto, se esta linguagem mimetiza de tal modo o fazer alheio, inviabiliza-se. Não sei se é bem o caso de O céu dos suicidas, mas a percepção imediata da leitura e das filigranas do romance deixou-me este gosto incomparável do já sabido.

Acerta o autor em diversos pontos. Há parágrafos enxutos e ao mesmo tempo densos. Entretanto, a busca que norteia a narrativa perde o rumo nas longas repetições que dão conta da “doença” em que o narrador mergulha. Romance ligado ao ego de sua época, a criação do alter ego não convence por ser óbvia.

Deveriam os escritores – mesmo que isto lhes custe leitores – não entregar a intenção ou despistá-la – como fazia Machado – com substratos de leitura que se mostrariam – como nos bons calidoscópios de outrora – com o passar do tempo, tão úteis que tornariam a obra imorredoura.

(oswaldo martins)

Nenhum comentário:

Postar um comentário