sexta-feira, 21 de junho de 2013

Dos estádios e do futebol

Dos estádios e do futebol
Para Roberto Bozzetti

O futebol, no Brasil, foi trazido por uma elite preconceituosa e reacionária. É lugar comum até dizer os negros e mulatos tinham de usar o pó-de-arroz para atuar nas equipes que se formavam. Quando O Vasco da Gama e, se não me engano, o Bangu expuseram a cor de seus maravilhosos jogadores, foram retirados da Liga do estado. Após a vitória da revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas, o esporte cada vez mais se popularizou, virando mania nacional. Nos anos cinquenta construiu-se o Maracanã, com suas arquibancadas e gerais. O Brasil tornou-se, a partir de então, o país em que o futebol conquistou os atletas mais intensos e uma torcida apaixonada.

As diversas mudanças sociais que movimentaram o país neste período – que vai de 30 a 50 – representaram algumas mudanças importantes na identidade do país. As vaias, assistidas pelo Maracanã, levaram o maior cronista brasileiro a afirmar, em seu estilo provocador e consistente, que no velho estádio vaiava-se até o minuto de silêncio. Após a glória do povo que o frequentou o Maraca era a pátria de todos – a frase de que o Maraca é nosso retumba ainda no ouvido de alguns desavisados. O Maraca não é mais nosso. Pertence aos órgãos que querem ver novamente os estádios elitizados. Por isso o privatizam, por isso permitem que a Fifa – essa excrecência do esporte mundial – interfira no modo como se comporta a população que frequentaria o estádio – os arquibaldos e geraldinos – pedindo que os cadeirantes sociais da elite contenham-se nos protestos e nos sonoros palavrões com que as pessoas do povo ou não desopilavam o fígado ao xingar quantos se interpusessem entre a bola e a fome e a fome de bola.

Não só os estádios branquearam, mas a selecinha, como diz o Bozzetti, também assume cada vez mais o pobre embranquecimento de seus atletas, que deixaram de ser intensos, que deixaram de ser sublimes, mesmo que ainda em lampejo do que foram os europeus Neymares Juniores da Silva consigam mostrarem-se como o que não mais são.  Como a torcida vê minguarem seus direitos a uma aposentadoria digna, como vê suas indústrias serem sucateadas para que as mãos dos Blateres do sempre espírito europeu – um espírito de saque e vandalismo, de usurpação e extermínio – se apropriem de nossa dignidade, que é expressa pelo sonoro puta que o pariu que é para onde os mando agora.


(oswaldo martins)

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