segunda-feira, 3 de junho de 2013

Pilulinha 33



Pilulinha 33

O fundamentalista relutante, de Mohsin Hamid, editado pela Alfaguara, em 2007, é um livro de combate. A partir de uma conversa entre dois personagens, descortina-se um cenário em que as vivências e motivações são confrontadas. A experiência de um paquistanês, que se defronta com o modelo de vida americano e dele quer fazer parte, é contraditada pela experiência real despertada pelo 11 de setembro.

Formado por Princeton e selecionado com louvor por uma firma americana de investigação econômica, o narrador busca confrontar o que seria uma vida de sucesso com suas raízes e com a atitude americana frente os conflitos que se avizinhavam no mundo, urdidos a partir do ataque árabe às torres gêmeas.

A decisão de abandonar o emprego e voltar para o Paquistão, abrindo mão das pretensas vantagens que o mundo do consumo americano traria, passa pela reflexão sobre as raízes a que pertence e descoloca o dilema sobre o sucesso em outro lugar. É este o lugar de onde se narra a experiência.

Como estratégia narrativa o fato de não permitir voz à voz com que dialoga desloca o sentido das verdades buscadas pelos dois interlocutores. Ao negar a voz do agente americano a quem explica suas decisões e sua postura política como professor de uma universidade no Paquistão, nega a possibilidade de se conheçam as designações com que os Estados Unidos demandam como ideário para um mundo pretensamente democrático. Ao silenciar a América do Norte, na voz de seu interlocutor, dá a ver de forma clara e contundente a impossibilidade de se ter no mundo árabe quaisquer formulações que os inculpem da percepção do que veio a ser classificado como terrorismo.

A única aceitação de terrorismo possível, para esta narrativa de combate, é que o lado oposto da trincheira se assuma como fomentador do assassínio. Na voz do narrador escuta-se “... o senhor não deve imaginar que todos nós, paquistaneses, somos terroristas em potencial, assim como não devemos imaginar que todos vocês, norte-americanos, são assassinos disfarçados”.

A cena que se segue e finaliza o romance apenas confirma a assertiva.

(oswaldo martins)








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