sábado, 13 de julho de 2013

namorada anarquista 4

a minha amada libertária
não pode beber mais do que duas taças
enquanto eu caprichava um salmão na cozinha
ela passeava no facebook

á mesa sem luz de velas
hábitos de uma burguesia que aspira ser aristocrata
romantismo decadente
disse-me  certa vez

perguntou
o que eu achava da truculência policial
ter chegado à zona sul

como assim?

então não sabes?
todas as noite vês o JORNAL NACIONAL!

pegou-me pelo  braço
levou-me para diante do computador

é com esta truculência
que vivem diariamente
as gentes da periferia

despiu-se
e nua pôs-se na varanda
a gritar estes versos:

na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
e não dizemos nada.
na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
e já não podemos dizer nada

como com ela ninguém pode
deixei-me sentado no sofá
a enxugar a garrafa de vinho
e a pensar
o que vão dizer os vizinhos?

elesbão ribeiro
12/0713
Nota: os versos em itálico são de Eduardo Alves da Costa transcritos do poema No Caminho, com Maiakóvski.

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