terça-feira, 11 de março de 2014

Sentidos que o tempo apaga

“... se riam dele e lhe chamavam canalha, com essa intenção, mais amigável que pejorativa, com que assim o povo classifica as crianças. ’Coisa de canalha!’

Em casa sempre ouvi, os adultos referirem-se ás crianças com esta palavra. É canalha: é criança; são canalhices: são coisas de crianças.
Esse trecho extraído do romance SIBILA, de Augustina Bessa-luís, muito me comoveu, vasculhou minha memória. O/a narrador/a só explica porque o personagem em questão já é adulto.
Ainda há pouco tive de explicar a uma amiga o uso de “catraia”, ao invés de menina, no penúltimo poema do namorada anarquista.
Com a perda da memória, também se perdem as palavras. Com a perda das palavras, também se perde a memória. Tenho usado a palavra rapariga quando escrevo, talvez para não perder a voz, a fala curiosa e afável de meu pai ao dirigir-se a minha irmã: ó rapariga, o que temos pra comer?
   
elesbão ribeiro

10/03/14

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