quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Pilulinha 41

O mestre e a Margarida, romance do escritor russo Mikhail Bulgákov, constitui uma bela alegoria sobre os regimes autoritários e seus incompetentes burocratas, sejam os homens do regime, sejam seus poetas e editores, outros estafetas, sempre alardeadores de verdades intransitivas e inquestionáveis. Servem tanto uns quanto outros como matéria de escárnio; quando atravessados pelo pequeno poder das vantagens administrativas, se contentam em ser arautos dos bons vinhos, das boas companhias e da soberba da verdade duvidosa que defendem.

Transporte-se o leitor deste belo livro para as rússias stalinistas, para as edulcoradas verdades capitalistas das américas macarthistas, ou ainda para os que, à sombra dos partidos, fazem o proselitismo dos grandes líderes. Transpor-se o leitor e encontre um poeta e um editor de propagandas oficiais a discutir a inexistência histórica dos cristos; para melhor servir ao poder do estado, não lhes bastava a negação religiosa, era necessário negar a própria existência dos instrumentos de tortura com que os poderosos de sempre tentam esconder a verdadeira face dos regimes públicos. Transporte-se o leitor para essa conversa surrealista e encontre, meio que sorrateiro aos dois – poeta e editor –, o diabo em pessoa. Transporte-se o leitor e entre na sátira alegórica de O mestre e a Margarida.

Deleite-se com os incêndios, com as mulheres nuas, com os homens ensandecidos, com os que se perdem, com o poder do dinheiro, com as trapalhadas dos burocratas e arautos, com a inoperância da polícia e com esse diabo dos capetas!


(oswaldo martins)

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