sexta-feira, 10 de abril de 2015

Pilulinha 43

Dante Milano, poeta da contra dicção, tem sido negligenciado nos estudas dos críticos brasileiros, talvez por dois motivos. Um pelo caráter contra-dictórico de seus poemas. O outro pelo desdobramento que esse contra-dictório tem na percepção do poético.

Ao contrário de Trakl, que faz uma poesia do mundo fechado, o poeta brasileiro usa palavras e sintaxes palmares, passíveis de serem entendidas, em sua superfície, pelo mais tosco entre os toscos político do país. O misto de entendimento e contra dicção faz de Milano o poeta brasileiro mais irredutível ao aparelhamento dos média.

No seu poema Pietá, a dor da mãe, que poderia se identificar com o lugar comum do leitor, é jogada para longe, quando se afirma na sua intransitividade, na incapacidade de dividir com o outro o que lhe é próprio, a dor. Anti-romântico por excelência, o poema, ao fazer a mulher olhar para baixo, faz com que ela veja apenas o que o filho é em seu presente momento de cadáver. Nenhuma contemplação, nenhuma dúvida; o olhar que olha vê apenas o que pode olhar, a afirmação do humano em sua finitude.

Qual mídia usaria essa força, essa trágica percepção e a aproveitaria para fazer o poema se submeter aos seus desejos de venda e compra? Ao se tornar irredutível à propaganda, o poema de Dante Milano afirma o lugar exato que a poesia deve ocupar.


(Oswaldo Martins)

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