domingo, 19 de fevereiro de 2017

QUASE ODE

Noto que agora minha voz treme, fica rouca,
e a dela também, nas mensagens que trocamos.

De noite, antes de dormir, naquele nicho entre
o que não se realizou no dia e o que será esquecido,
minha respiração soluça.

Teimo em adiar resoluções como se fossem
um produto de qualidade inferior,
mas ainda assim removo as teias da casa.

Ela me fala de uma tal sabedoria
de antes da guerra, os nomes dos filhos
seguindo as estações,  e as óperas.

Temos nomes curtos, ela e eu,
que cabiam numa almofada bordada
pelas mãos das nossas avós, em azul celestial.

Trocamos textos sem culinária alguma,
sem preparo, renovando os votos de sobressalto,
mas ainda assim, o nicho.

A voz dela rouca e escrita sobre a minha
me sublinha.  A voz dela rouca e escrita

sobre a minha. 

(Lúcia Leão)

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