terça-feira, 15 de agosto de 2017

pilulnha

pilulinha sobre o poema o pacifista 4, de elesbão ribeiro

o pacifista 4

comprava marreta
para quebrar arcos de ferro
que prefeito mandara instalar
em bancos de praça
para não deitarem
não dormirem os sem teto

viu mais adiante aos fundos da loja
serra elétrica com bateria
sem vandalismo pensou
comprou a serra

elesbão pinto ribeiro

13/08/17

O poema de Elesbão se equilibra a partir do emprego dos verbos no passado, que criam a beleza dos versos substantivos. O pretérito imperfeito, com que o abre, coaduna-se ao império das ações provocadas pelos prefeitos destes nossos tristes trópicos, no verbo usado no mais que perfeito, motivador de um passado mais pretérito que o imperfeito da abertura e, por assim dizer, mais contínuo, que o perfeito dos dois últimos versos, propondo a ação final.
Perceba-se: provocado pela ordem cruenta dos nossos dirigentes que mandam instalar nos bancos das praças pequenas peças de ferro, para impedir que neles os despossuídos da civilização deitassem, a voz do poema – que se quer anônima – age pacificamente, indo comprar a uma loja um objeto que lhe permitisse a revolta da desobediência. Intencionava uma marreta. Acaba por decidir-se pela serra elétrica.
A cena banal transmuda-se em poema pelo uso dos verbos que, didaticamente, emprestam ao leitor a síntese do tempo protofacista no qual o país mergulha. Em troca do sopão dos pobres, a pacífica revolta das armas possíveis.


(oswaldo martins) 

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