domingo, 3 de setembro de 2017

O velho novo Francisco

Caravanas é um disco de muitas entradas, mantém a qualidade poética das músicas, uma constante na obra do compositor, e ainda acrescenta uma raiva contida, medida, como no melhor da poesia contemporânea. Da belíssima Tua cantiga, que abre o álbum, a Caravanas, que o fecha, incluindo as duas regravações, a obra é um presente à sensibilidade embutida desses tempos bicudos.

O compositor convida a sorrir por dentro, chama atenção para aquele psiu, pontua que o poeta – a figura arquetípica do poeta – hoje tem outra beatriz a cantar que não a da literatura tradicional, reinventa a idade e duela com a juventude no que ela tem de mais belo ao mandar às favas astros, sinopses e o escambau, sugere o encanto de la casualidad e a altura dos vagabundos de picas enormes e sacos de granadas.

O vasto repertório bate na surdez que vitima os que, virtuosos e ordeiros, sentem o pejo da nudez agressiva dos torsos nus, os que não largam mulher e filhos – e, por óbvio, suas babás – para as passeatas copacabanas e jardins (de Alá).

Ao apontar para a necessidade de se manter fiel à canção, aponta para a percepção nítida de que são outros os tempos da canção, permitindo que o ouvido atento, por sua vez, por sua voz, perceba a síntese – ou o sincopado – da melhor obra publicada nesses últimos anos.

(oswaldo martins)

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